É consenso de que não há nada pior do que se sentir mal na rua. Além da sensação de impotência, existe também a questão da vergonha ao perceber que estão todos olhando pra você. Mas alguém já teve dor de barriga na rua? É, amigos, tão ruim quanto isso é ter dor de barriga na escola. Se você é do sexo masculino, principalmente, deve ter conhecimento de alguém que passou sufoco (isso se não foi você mesmo). Por que os garotos evitam fazer o “número 2” nos banheiros dos colégios? Respondo: porque sempre há um grupo de otários que ficam de guarda esperando uma vítima com caganeira. Aí, além de sacanear o pobre coitado, espalham pra todo mundo que o cara estava descarregando. Eu vou bem contar uma história sobre isso, que se divide em duas partes:
PARTE 1: humilhação.
A única coisa que o inspetor conseguiu ver foi um garoto passando correndo e entrando no banheiro, levando umas folhas de caderno nas mãos. Achou curioso, mas deixou pra lá. Era o turno da tarde, não era hora do recreio. Naquele momento todo o pátio estava vazio. O pobre menino deve ter tido uma crise no meio da aula, arrancou umas folhas de caderno e se mandou pro WC.
O garoto entrou como um louco pela porta. A mer...cadoria já estava prestes a ser emitida. Ainda teve tempo de escolher que vaso usaria. O banheiro era apenas um dos vários existentes naquela grande escola. Esse, particularmente, tinha duas fileiras de vasos sanitários, uma enfrente da outra, mais ou menos uns dez de cada lado. O problema é que, embora fossem separados por paredes, não havia portas. O jovem escolheu o último da fileira da direita. Correu, sentou-se.
A situação era a seguinte: estava sentado no último dos 20 vasos sanitários, num dos vários banheiros da escola, todos os alunos estavam em sala de aula. Ainda assim, o pobre coitado não conseguia relaxar, tinha medo de que alguém pudesse encontrá-lo. Ora, seria impossível! Todas as estatísticas estavam a seu lado. Ninguém saberia que ele estava ali fazendo aquilo, certo? ERRADO!!!
No auge de seus “trabalhos”, o jovem começou a ouvir um falatório. Percebeu que um grupo de garotos acabara de entrar no banheiro. “Meu Deus!”. Olhou o relógio. Ainda faltavam uns quarenta minutos pro fim das aulas. Como havia umas aberturas embaixo das cabines dos vasos sanitários, ele levantou os pés para que não fosse visto. Naquele instante, provavelmente ele já estava travado de tanto medo. Alguém gritou: “E aí, tem alguém cagando aí?”. O menino ali sentado começou a tremer, mas sempre tentando manter a calma. Mas era difícil. Então, houve um silêncio. Teriam ido embora? O garoto com dor de barriga controlava até a respiração pra não fazer barulho. Quando já estava pensando em baixar os pés e continuar com seus esforços, três outros garotos pularam na sua frente: “AHÁÁÁ...”. Ao mesmo tempo, outros dois apareceram por cima, certamente subindo no vaso ao lado. “PEGAMOS VOCÊ...”. Começaram a jogar água, na cara, por cima, nas regiões baixas, sempre chmando-o de “cagão”.
O menino pegou as folhas de caderno, limpou-se de qualquer jeito, vestiu-se e saiu correndo, sempre ouvindo os gritos dos outros cinco. Parece que depois daquilo o grupo de arruaceiros foi descoberto pelos inspetores e levado à coordenação. O garoto voltou pra sala e conseguiu assistir o finalzinho. Fato é que ele não tinha feito o serviço completo. Ainda se sentia mal.
Lamentavelmente a escola ficava a mais de dez quilômetros de casa. Teve que pegar um ônibus. Sofreu mais cinqüenta minutos antes de se aliviar. Coitado... Um dia de humilhações.
PARTE 2: vingança.
Devido a um problema qualquer no trânsito, ele chegou atrasado à escola. Era o segundo tempo de aula e não havia ninguém no pátio. Antes de subir as escadas, o garoto cruzou com outro jovem, descendo apressado. Imediatamente o reconheceu. Era o mesmo que na 5ª série, portanto no ano anterior, comandou o ataque no banheiro. Foi aquele mesmo que pulou na frente dele e gritou “AHÁÁÁ...” e comandou o banho de água. Discretamente deu meia volta e o seguiu. Adivinhem! Ele entrou no mesmo banheiro!
Com a mochila nas costas e tomando todo o cuidado para não fazer barulho, a ex-vítima entrou no banheiro. Agachou-se e olhou por baixo das divisórias dos vasos sanitários. Não se via nenhum pé. “Miserável! Ele também levanta os pés”, pensou provavelmente. E agora? O que fazer? Supôs que ele estaria num dos últimos “tronos”. Caminhou discretamente até o fim do corredor até que deu de cara com um garoto sentado, de pernas encolhidas, com uns guardanapos nas mãos, amarelo de tanta força que fazia e que acabara de se espantar. Segundo se soube, o diálogo foi mais ou menos este:
- Oi, lembra de mim?
(silencio)
- Tá passando mal? - insistiu
- Siiiiiimmmmmm...
- Ta suando, né? Toma...
Tirou o copinho com água que escondia atrás do corpo e jogou na cara do moleque. Mas ainda precisava fazer mais uma maldadezinha. Aproveitou que o garoto estava meio cego com a água nos olhos e puxou os guardanapos que segurava. “Agora limpa com a mão!” E saiu correndo para a sala de aula. Soube-se que naquele dia faltou água e o garoto da caganeira não pode lavar as mãos. Imaginem! Parece que nem voltou pra aula.
Depois daquilo, o menino que sofrera o “ataque” antes e que acabara de se vingar perdeu o medo de ir a banheiros públicos.
Pergunta final: se faltou água naquele dia, com quê o garoto encheu aquele copinho?